Erase-record-replay
A tecnologia erase-record-replay foi elaborada inicialmente para a produção de eco. Paralelamente, contudo, foi explorada também de outras maneiras, como na criação de loops, por exemplo. Mediante a distribuição dos reprodutores sonoros de forma conveniente no espaço de execução, uma das características importantes na obra foi a utilização da espacialização.
Outros compositores, tais como Brün, Hambräus, Heiss, Kagel, Koenig, Ligeti e Pousseur contribuíram para a extensa produção do estúdio de Colônia. Estes criadores de elektronische musik, constituíram a face oposta à corrente francesa da música concreta, complementando-se no desenvolvimento da eletroacústica até meados da década de 1960.
Música computacional
O conceito de música computacional, composta ou gerada com o auxílio de um computador, foi uma área de estudo de exame teórico e de aplicação tecnológica em campos musicais. Muito do trabalho nesta área está na relação entre a matemática e a teoria musical.
O CSIRAC (Council for Scientific and Industrial Research Automatic Computer) foi o primeiro computador da história a tocar música digital. Sua primeira composição computacional foi gerada na Austrália por Geoff Hill em 1952. Posteriormente, a tecnologia MIDI permitiu que computadores pessoais interagissem com sintetizadores através de uma interface comum.
Década de 1960 e 1970: sintetizadores pessoais e as músicas populares
A partir de 1950, a intensificação das pesquisas por franceses e alemães resultou em projetos de novos instrumentos, germinando a era dos sintetizadores.
Os Anos 1960 foram férteis para a música eletrônica, pois a tecnologia tornou-se mais acessível aos independentes. Entretanto, muitos compositores ainda faziam uso da música concreta, devido à complexidade em compor com um sintetizador ou computador. Devido a isto, alguns músicos iniciaram pesquisas para melhorar a tecnologia neste sentido, levando a três grupos independentes buscando o desenvolvimento do primeiro sintetizador pessoal.
O primeiro desses sintetizadores foi o Buchla, criado em 1963 por dois norte-americanos: o compositor Morton Subotnick e o físico Donald Buchla. O dispositivo foi pioneiro na incorporação de sequenciador para programação e repetição de uma série de voltagens e utilizava 16 pads sensíveis, cada qual podendo disparar sons programados manualmente. Para isso, eram usados controles no painel a eles conectados ou, alternativamente, um teclado real usando a escala cromática.
Silver Apples Of The Moon – Morton Subotnick 1967.
Robert Moog foi um inventor, músico e engenheiro norte-americano que, por meio dos equipamentos que desenvolveu, revolucionou o som e o uso dos teclados musicais. Junto com o compositor Herbert Deutsch, inventou o sintetizador Moog, apresentado em um congresso em 1964.
Os primeiros músicos que utilizaram o Moog foram compositores de universidades e conservatórios de música. A maioria das pessoas pensava que a música feita por sintetizadores não tinham lugar na produção de música de alta qualidade, imaginando-se uma pequena relação com os valores musicais tradicionais.
Ao longo do tempo, os sintetizadores Moog foram ganhando espaço e gerando curiosidade nos artistas independentes pelo mundo. Suas sonoridades futuristas, e riqueza de novos timbres, antes nunca ouvidos, resultaram no seu uso por artistas como Wendy Carlos (no disco Switched-On Bach e na trilha sonora de Laranja Mecânica), The Beatles, The Doors, Gershon Kingsley’s e pelo tecladista Keith Emerson, do grupo de rock progressivo Emerson, Lake & Palmer.
Gershon Kingsley’s First Moog Quartet – Miracles.
Ainda nos Anos 1960, foi desenvolvido como assessório aos sintetizadores o sequenciador, que transformaria a maneira de produzir música pelos anos seguintes. Com ele o compositor passou a ser capaz de programar ritmos e frases pré-definidas para serem tocados e gravados sem necessidade de execução manual.
Com o passar do tempo, a tecnologia evoluiu e os sintetizadores tornaram-se mais baratos, sendo progressivamente utilizados por diversas bandas de rock dos Anos 1970. O sintetizador tornou-se um dos principais instrumentos utilizados no palco para apresentações multimídia com grandes platéias. A década marcou grande demanda do sintetizador nas lojas de instrumentos musicais com o lançamento do revolucionário Minimoog – sintetizador monofônico analógico criado pela Moog Music. Empresas concorrentes da R.A. Moog Inc., de Robert Moog, logo surgiram: Roland, EMS, ARP e Korg foram as principais, abrindo as portas para a produção de música eletrônica por qualquer músico.
Ainda nos Anos 1970, o grupo alemão Kraftwerk teve imensa importância na popularização da música eletrônica mundo afora, ao criar sons eletrônicos de modo ímpar. As técnicas originais que introduziu, utilizando sintetizadores, sequenciadores, percussão eletrônica e vocoder criaram estilo intrínseco baseado em grooves, que serviam de fundo para efeitos eletrônicos, melodias simples e vozes robotizadas.
Após vários álbuns experimentais, o sucesso da banda veio em 1974 com o álbum Autobahn, e a sua faixa homônima de 22 minutos. A canção foi um hit mundial, demonstrando a grande relação da banda com sintetizadores e outros instrumentos eletrônicos.
Primeiro album da banda, Kraftwerk.
Primeiro sucesso de Kraftwerk.
O Kraftwerk lançou vários álbuns que se tornaram sucesso de vendas, como Autobahn (1974), Radioactivity (1975), Trans-Europe Express (1977), Man Machine (1978) e Computer World (1981). A progressão da sonoridade do grupo foi gradualmente assimilando e usando a nova tecnologia em evolução.
O acompanhamento das sucessivas inovações do grupo passou a inspirar outros músicos, que criaram novos gêneros e sub-gêneros variados da música pop, como o Synthpop, a Dance Music, o Techno, o House e o Electro.
Jazz Fusion
Alguns músicos de jazz como Herbie Hancock, Chick Corea, Joe Zawinul (Weather Report) e Jan Hammer (Mahavishnu Orchestra) começaram a utilizar os sintetizadores em gravações de Jazz Fusion entre 1972 e 1974. Gênero musical, desenvolvido em meados de 1960, mistura de jazz com rock, funk, R&B e Latin jazz. A fusão destes estilos musicais com o jazz, pode ser visto como uma abordagem musical, sendo como o termo ”jazz fusion” é frequentemente usado como sinônimo de ”jazz rock”.
As gravações do album I Sing the Body Electric (Weather Report) e Crossings (Herbie Hancock) utilizaram sintetizadores para efeitos sonoros, em contraste com as músicas de outros artistas e/ou bandas que utilizavam piano.
Weather Report – Unknown Soldier (I Sing the Body Electric).
O ”scratch” de discos, técnica e elemento muito utilizado no hip-hop, é aplicado na música Rockit, de Herbie Hancok. Vários elementos e técnicas utilizadas na música eletrônica foram de extrema importância para o surgimento deste estilo nos Anos 1970.
Herbie Hancock – Rockit.
O líder da Zuzu Nation, Afrika Bambaataa, foi o primeiro a utilizar o termo ”hip-hop”. Lance Taylor, cantor, compositor, produtor musical e DJ fomentou e expandiu, nos bairros negros e latinos de Nova York, a nova cultura do hip-hop, que congregava disc-jóqueis (DJs), mestres-de-cerimônia (MCs), grafiteiros (Writers) e dançarinos de Break Dance (B.Boys e B.Girls.Esse movimento criativo fez nascer não somente a cultura e a profissão de DJ, mas também foi caminho para muitos jovens, inclusive, o precursor do gênero, Lance Taylor. Planet Rock é um clássico do hip hop e do electro. Muitas bases foram feitas e auxiliaram o surgimento dos gêneros Miami Bass e Freestyle nos Anos 1980, dos quais se originaram, mediante simbiose com outros ritmos, diversos sub-gêneros musicais pelo planeta.
Afrika Bambaataa & The Soul Sonic Force – Planet Rock.
Década de 1980 ao ano 2000: a música eletrônica para o grande público
O inicio dos Anos 1980 foi marcado pelo surgimento dos samples e pela substituição dos instrumentos análogicos pelos digitais, devido ao grande interesse na inovação das ferramentas musicais eletrônicas no período. Esses produtos, quando lançados, eram caros e sua disponibilidade só foi ficando mais acessível paulatinamente no decorrer da década, assim facilitando a produção de cultura eletrônica aos músicos e, consequentemente, ao público também.
Tal como os samplers, a difusão desta cultura deve-se à popularização dos computadores pessoais. Passou a se tornar a cada ano mais fácil tirar proveito das funcionalidades de sintetizadores e instrumentos musicais mediante a criação, manipulação e apresentação virtual sonora. O MIDI, padrão de interconexão física (interface digital, protocolo e conexão) e também lógico-computacional, que facilita a comunicação em tempo real entre instrumentos musicais eletrônicos, computadores e dispositivos relacionados, foi criado para contornar as dificuldades de comunicação entre equipamentos de diferentes tecnologias. Com o MIDI se tornou possível, ativar, a partir de um comando predeterminado pelo músico, qualquer dispositivo de estúdio em sincronia com o utensílio no computador.
No final da década de 1970 e início da década de 1980, aconteceram notórias transmutações sonoras, tendo como destaque o surgimento do estilo Synth-Pop. Este gênero musical teve grande influência na música eletrônica e também revelou bandas como Depeche Mode, New Order, Information Society. Alphaville, A-Ha e, posteriormente, Erasure e Pet Shop Boys. O synth-pop tem como característica predominante o uso de sintetizadores, derivando-se também do new wave, embora bastante vinculado à música pop.Diferentemente de outros estilos em que predomina o eletrônico (dance music, por exemplo), o synthpop se caracterizou pela manutenção do ritmo e da atuação de bandas tipicamente pop ou rock, embora tivessem um formato diferenciado desses estilos.
New Order – Blue Monday 88.
Retrocedendo aos Anos 1970, necessário destacar o sucesso da música Disco, gênero musical que teve suas raízes nos clubes de dança voltados para negros, latino-americanos, gays e apreciadores de música psicodélica. Atingiu seu ápice entre 1977 e 1979, apoiada por massiva execução nas rádios de todo o mundo e potencializada pelo sucesso estrondoso do filme Saturday Night Fever. A Disco Music exerceu grande influência nos gêneros que despontariam nas décadas seguintes, marcadas pelo surgimento da música eletrônica dançante e de novas ramificações como o House, o Techno e o Trance.
Saturday Night Fever (1977) Trailer.
A aceitação e o desenvolvimento da música eletrônica dançante na indústria da música e nas casas noturnas devem-se às novas ramificações originadas nos EUA e no Reino Unido. Essas expansões do gênero musical eletrônico vieram da criação da House Music em Chicago em 1980 como uma vertente da Disco Music e do Eletropop, ao mesmo tempo em que paralelamente se desenvolvia em Detroit o Techno – resultado da fusão de muitos gêneros da música afro-americana, como Funk, Eletro e Jazz Eletro. Pouquíssimo tempo depois, o fenômeno reverberou no Reino Unido, com o diferencial da transmutação de subgêneros para o Acid House – um mix de elementos da House Music com o som pesado e graves profundos produzidos pela ferramenta Drum Machine Roland TR-808.
Jesse Saunders – On And On. Model 500 – NO UFO’S (1987).
Phuture – Acid Tracks (1987).
O surgimento das raves
Em meio ao fim da Guerra Fria e da União Soviética, o declínio do socialismo no leste europeu e a reunificação da Alemanha, surgiu um movimento contracultural europeu que pregava a tolerância e a amistosiedade em contraponto ao pessimismo ”dark” que dominava os Anos 80. Esta sub-vertente do House ficou conhecido como Acid House. O uso do termo Acid deriva da utilização do sintetizador de baixo Roland TB-303 que com seus efeitos reproduzem uma sonoridade considerada”ácida”.
Iniciadas na Alemanha e no Reino Unido, as festas raves tiveram uma grande importância no desenvolvimento da música eletrônica. A elevação de consciência, a interação entre pessoas e outras formas de arte eram os motivos primordiais desse tipo de festa. O uso de substâncias ilícitas nas chamadas raves, contudo, estigmatizou de certo modo até os dias de hoje a imagem das raves.
A presença de diversos públicos simpatizantes do novo movimento contríbuiu para a expansão dessas festas, resultando na diversificação de vertentes musicais da música eletrônica. Depois da Acid House, tornaram-se presentes nas raves o Trance o Techno, O Eletro, Minimal, Psy Trance e Drum n’ Bass. Em formato open air, as festas passaram a abranger também outras vertentes do Trance, como o Progressive Trance e o Full On. Do House desdobraram-se fusions como o Eletro House, Tech House, Progressive House e Deep House.
Referências:
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Parte V, VI e VII
Origens da House Music Acid House Techno Hip-hop e a Música Eletrônica Data: TBA
Escrito por Mateus Genero.