Verdade seja dita: O mercado fonográfico virou um verdadeiro multiverso de músicas, artistas e labels e se você não souber para onde está indo, fica fácil se perder no caminho. Com o avanço da tecnologia, do amplo acesso à informação e da disseminação da música eletrônica, as transformações têm sido cada vez mais rápidas nessa esfera. Isso faz com que a expansão cultural atinja mais pessoas em um espaço de tempo menor, molde gostos, crie tendências e também gere força para fazer incentivar pessoas a optarem pela carreira artística.
Esse ritmo contribui para disseminar o estilo, derrubar barreiras e preconceitos – principalmente as categorias mais undergrounds – e consequentemente, alimentar o mercado de entretenimento e incentivar iniciativas voltadas ao consumo dessa fatia da cultura. Mas como tudo na vida, há dualidades. O lado desafiador é que a pluralidade tem revelado, em velocidade acelerada, múltiplos talentos, tornando o espaço para se destacar cada vez mais comprimido e a chance de cair no esquecimento, mais rápida. Estamos dinâmicos como nunca e isso torna a busca pelos highlights cada vez mais acirrada. Já faz tempo que não basta só ter talento, é preciso ir além, mas até aqui nenhuma novidade.
E justamente por essas questões que o mercado musical se tornou mais seletivo e exigente quanto à qualidade dos trabalhos em geral, mas ao mesmo tempo, se tornou gigante demais, o que pode deixar o caminho turvo para quem está começando. Criatividade, investimento, trabalho consistente, gestão de tempo, networking, marketing, popularidade, preciso ter tudo isso? Onde lançar? Como lançar? Com quem falar? E se eu quiser lançar mais livremente, o que fazer? Perguntas clássicas de todo artista, que hoje podem ser respondidas aqui. Para tornar o diálogo mais compreensível, vamos segmentar em dois momentos. Você enquanto artista e você que deseja ter seu próprio selo musical.
Como enviar seu trabalho para uma gravadora
– Tenha em mente que você precisa trabalhar: simples assim, se você tem condições de produzir, pratique e dedique-se o máximo que puder. A imersão em estúdio impulsiona a criatividade. Não espere acontecer, vá atrás.
– Saiba para onde você quer ir: você pode produzir o que bem entende, mas tenha consistência. Não há necessidade de impor barreiras ou rótulos, porém, é preciso lembrar que se você mirar em muita coisa ao mesmo tempo, a chance de conseguir algo realmente bom diminui. Persista naquilo que você sabe que faz bem.
– Gestão de tempo: estabeleça metas no seu dia a dia para não se perder. É importante entender que sua mente artística pode se perder na condução administrativa, então crie métodos, estipule metas diárias e semanais. Desconecte-se das redes sociais.
– Qualidade de trabalho: não espere por grandes retornos se você não tiver uma finalização adequada para suas faixas. O processo de mixagem e masterização são fundamentais. Lembra da parte do mercado estar mais seletivo? Então…
– Trabalhe sua imagem: a.k.a Marketing Pessoal, Press Kit em dia e investir em redes sociais. Quer você goste ou não, você precisa pensar na sua imagem, no seu conceito, o que sua música diz, porque diz. Você até pode prosperar só pelo seu talento, isso acontece, mas levando em conta a quantidade de gente, melhor não subestimar esse item – até porque a galera do label vai te fuçar cedo ou tarde.
– Network: outro ponto que gera preguiça nos artistas mais tímidos e low-profile. É verdade, se você não tiver conhecidos, bons contatos, amigo-do-amigo, as coisas também ficam mais complicadas. Essa esfera é cheia de gente bacana, conecte-se com quem está realmente aberto a prestar atenção em novos talentos e trabalhar com o colaborativo.
– Pesquise: existe uma infinidade de selos tanto no Brasil, quanto no mundo. Não subestime sua capacidade, vá atrás de seus ídolos e veja onde eles estão lançando, se eles possuem selos. Encontre novos talentos mundiais nestes grandes selos e veja onde mais estão lançando. Quando encontrar estes selos, estude sobre eles, saiba com quem você está falando.
– Se você tem o contatinho do A&R: ótimo, sinal que você cumpriu com os 3 últimos itens acima. Siga o script que ele te passar e boa sorte!
– Se você não tem esse contato: atente-se ao item sobre pesquisa. Certifique-se sobre o formato de recebimento de demo de cada selo antes de anexar um baita arquivo ou enviar um link estranho para download. Soundcloud é um grande aliado. Leia as coordenadas e não se esqueça de nenhuma informação. Confira tudo antes de enviar.
– Envie o e-mail e lembre-se que storytelling é tudo nessa vida: faça uma breve apresentação, fale um pouco da track – uma por tentativa – e o porquê você gostaria de lançá-la ali. Não precisa falar da sua idade e nem que seu trabalho é perfeito para o selo. Lembre-se que tudo isso é trabalho, seja profissional. Evite textão.
– Tenha paciência e segure a ansiedade: esse retorno pode demorar meses em alguns casos, aguente firme e lembre que é exatamente por isso que você precisa mirar no item 1 da lista anterior.
– Saiba lidar com a rejeição: todos os grandes nomes já lidaram com isso em algum momento, você também vai. E está tudo bem, não desista, faz parte do processo receber alguns não’s. O que poderia ter sido diferente? Reflita e mãos à obra!
– Construa relacionamento: não é porque você ganhou um não na primeira tentativa que vai cancelar o label, né? Se você escolheu determinadas marcas é porque sabe que existe fit entre vocês. Siga firme no propósito, lembrando do profissionalismo sempre.
– Algumas notas de rodapé aqui: Esse processo é também um grande aprendizado para quem está começando, mas por isso é importante se preparar e estudar as etapas. Lembre-se que a primeira impressão é a que fica, as pessoas no campo profissional gostam de profissionais organizados, focados, mas a linha pode ser tênue entre alguém insistente e alguém que não possui uma postura adequada. Na dúvida, seja profissional. E lembre-se: foco no network.
Como montar uma gravadora
A cena de música eletrônica brasileira tem vivido uma intensa metamorfose, como falamos acima. Isso não só gera um aumento na dinamização cultural traçada pelas gerações, como torna o ambiente mais receptivo para se fazer germinar novas perspectivas, ideias e negócios. É o que acabou acontecendo nos últimos tempos com um verdadeiro “boom” de selos e gravadoras. E se você chegou em um momento decisivo para criar seu próprio negócio, seja para lançar suas faixas com maior liberdade ou para fomentar o nicho, atente-se ao seguinte:
– Saiba seu real propósito: entenda que ao lançar um selo musical, você dá um passo além da carreira artística e passa para uma fatia mais empresarial. Sim, você precisa saber que isso vai demandar tempo, responsabilidade e muito profissionalismo.
– Atente-se às questões legais e jurídicas: empreender é um caminho cheio de percalços. Engana-se quem acha que ter seu próprio negócio terá uma vida mais fácil. Busque entender as partes mais burocráticas para evitar surpresas no futuro. Registre seu negócio, elabore os contratos e processos internos.
– Planejamento financeiro: é preciso plantar, para colher. Logo, tenha em mente que será necessário investir primeiro para depois ganhar e que isso pode demorar mais do que você imagina. Entenda que é um trabalho de longo prazo. Você vai precisar investir em Marketing, Distribuição Digital, Masterização, Identidade Visual, Promo, suporte aos artistas e por aí vai…
– Ter um nome e tenha certeza que ele não existe por aí: pesquise nas lojas digitais para evitar a gafe de usar um nome que já existe —ou algum muito parecido que possa gerar confusão ou até parecer cópia.
– Cuide da sua imagem e do seu conceito: lembra desse item quando você estava lançando tracks? Pois então… ele fica ainda mais forte quando você passa a ter uma empresa. Marketing é fundamental e subestimar o investimento nessa área é inversamente proporcional à rapidez que seu negócio irá prosperar.
– Conceito vs. demos diversas: Esse talvez seja o item mais desafiador. Se você seguir firme em um determinado conceito, saiba que não fará muito sentido lançar algo que se distancia muito da sua estética sonora. É por essa razão que muitos selos se colocam como centralizadores de música boa, ao invés de ser um selo de X ou Y. Ambos funcionam.
– Seja atencioso com os artistas: Você provavelmente já esteve nessa posição e sabe como é ruim ficar sem receber resposta, sofrer atrasos em lançamentos e/ou lidar com descaso por não ser um peixe-grande. Be nice!
– Crie laços com os artistas que lançaram em seu selo: reforçando o item acima e independente de quem seja o artista, seja horizontal nesse relacionamento. Chame o catálogo de artistas para showcases e eventos virtuais ou presenciais. Use suas redes sociais para fomentar esses nomes também.
Não ficam dúvidas aqui: para ingressar na carreira artística, independente de qual área você deseja atuar, é preciso estudar, trabalhar e persistir. Plantar para colher, mas saber que quase sempre a colheita demora. Converse com as pessoas, faça cursos e mentorias, antene-se sobre Marketing Digital e tenha em mente que escolher atuar com a camada cultural é sempre desafiador – quem dirá com a música eletrônica – mas que, com profissionalismo e foco é possível sim transformar um sonho em uma profissão consistente.