Os últimos 20 anos que marcaram a virada do milênio, representaram uma grande transformação na indústria musical em âmbito mundial. A música que até então era consumida através de mídias físicas como fita cassete, disco de vinil ou CD, foi absorvida pela revolução digital, e transformada em um arquivo virtual de compressão de áudio chamada MP3. Uma revolução que estabeleceu um grande divisor de águas dentro dos padrões de consumo da música, promovendo praticidade, facilidade e ampla difusão através de suas mídias digitais.

Assim como a indústria fonográfica que viu-se virada de cabeça para baixo com a mais nova tecnologia de consumo digital, as fabricantes de equipamentos de áudio também trataram de correr atrás da novidade e buscar novos meios atrativos que acompanhassem a grande atualização do mercado.

O marketing em volta do MP3, que tinha seu primeiro start já em meados dos anos 90, firmava-se sobre um padrão de compressão de áudio com taxa de 128Kb/s de qualidade, um formato adequado para que se encaixasse perfeitamente dentro da capacidade de armazenamento de um PC, sem ocupar um espaço significativo e com a possibilidade de reprodução através de softwares especializados para o formato. Os MP3 Players foram os primeiros aparelhos externos ao próprio PC, que reproduziam o novo formato. Inicialmente desenvolvido por fabricantes coreanas e norte-americanas, como o RIO 100 da Diamond Multimedia e MPman da Saehan Information Systems, os MP3 Players abriram espaço para o desenvolvimento de novos modelos com preços mais acessíveis e tecnologias cada vez mais apropriadas para comportar o novo molde de consumo musical.

(RIO 100 – Diamond Multimedia)

É claro que no meio dessa grande transformação, as fabricantes de equipamentos de áudio profissional que até então eram líderes de mercado como a Pioneer e Denon trataram de buscar meios de incorporar o novo formato em seus equipamentos. A Pioneer, que já havia sido pioneira no lançamento de diversos periféricos voltados para uso doméstico como o primeiro DVD player, e também coordenava sua supremacia sobre o mercado de equipamentos voltado para DJs, iniciava sua corrida contra o tempo e introduziu o primeiro modelo de CDJ compatível com o MP3, o CDJ-200.
A evolução dos modelos não paravam por aí, enquanto a CDJ-200 apenas lia o formato MP3 gravado em CD, seus modelos posteriores já apresentavam a compatibilidade USB, com possibilidade do uso do Pendrive, o que facilitaria e muito a vida dos DJs.

A tecnologia foi evoluindo a passos largos, e com ela também a forma de consumo musical. O MP3 deixava de ser apenas uma alternativa, assumindo a posição primordial de consumo musical no final da primeira década dos anos 2000. O vinil virava apenas um artigo de colecionador, e o CD um ítem quase extinto no mercado. Ouvir o músico passou a ser algo muito simples. Era só apertar o play via PC ou celular, que já era possível curtir sua faixa favorita.

Paralelo a isso, alguns fabricantes viram que a paixão por música e pela novas tecnologias voltadas para softwares digitais abriram um gap no mercado de equipamentos de áudio. Se era tão prático o uso de softwares para reprodução de aúdio, por que não desenvolver um equipamento que conversasse com esses players digitais?

Foi então que em 2004, a Hercules percebeu a lacuna e lançou o primeiro controlador para Djing do mercado, um equipamento que incorporava um misturador de seis canais e um par de jogs, permitindo controlar a seleção e o andamento das faixas selecionadas pelos Djs em conjunto com softwares digitais. Pegando carona com a nova ideia, a Vestax também emplacou pouco tempo depois, seu controlador digital projetado especificamente para DJing, acompanhado de um mixer com crossfaders, botões de controle, dois players e demais componentes de qualidade. Posteriormente novos modelos foram surgindo e ganhando liderança no mercado, como a Traktor da Native Instruments e a nova série de controladores da Pioneer chamada DDJ.

(Hercules DJ Console mk1)

Os controladores digitais viriam para marcar uma nova geração no universo da discotecagem, abrindo o espaço para novos players e apaixonados pela música, já que trazia uma facilidade e praticidade maior em sua manipulação, além de um preço menor que os aclamados CDJs. Junto aos equipamentos, softwares voltados para discotecagem também foram desenvolvidos tanto para serem manipulados junto ao equipamento, bem como para o uso independente, permitindo que os DJs pudessem discotecar mesmo sem o uso de um hardware externo. Aplicativos como Traktor, Serato e Virtual Dj passaram a ser uma realidade muito mais acessível aos interessados pelo universo da discotecagem, permitindo um acesso mais barato e prático a todos que possuíam um PC ou notebook, e até mesmo um celular ou Tablet que fosse compatível com os softwares musicais.

A preferência pelo portátil e pela praticidade, por mais que conquistasse seus adeptos, não foi o suficiente para superar o padrão de linhagem das velhas e clássicas CDJs e toca-discos. Apesar da facilidade e acessibilidade, a tradição dos equipamentos que permitiam ao DJ um contato de manipulação mais direta com a própria música, continua a ser sinônimo de qualidade, prestígio e domínio da função. Dessa forma, algumas polêmicas levantadas acerca do uso de controladores digitais, com facilidades que isentava o Dj de um trabalho de escuta mais aprofundada —como o botão Sync—, ou até mesmo sua dependência do software, e sua qualidade de saída de áudio inferior ao da CDJ e toca-disco, dominam até hoje o campo de discussão acerca do uso dos equipamentos.

Entretanto, o controlador digital também é sinônimo de funcionalidade e criatividade. Precisamos entender que a tecnologia é também grande aliada do processo criativo. Grandes artistas como Richie Hawtin e Nicole Moudaber são adeptos do uso de controladores em suas performances, que não deixam absolutamente nada a desejar em desempenho e qualidade.

Quanto mais a tecnologia avança, mais ainda os três formatos toca-discos, CDJs e controladores estabelecem um ponto de encontro. Hoje com o mais recente modelo da Pioneer, a CDJ-3000, o equipamento permite a completa integração com seu software Rekordbox, e extinguindo a compatibilidade clássica com os Compact Disc. Os toca-discos também não ficam para trás, os turntables da Reloop em seus modelos mais recentes, apresentam a integração com softwares digitais atuando até mesmo como controladores MIDI.

Enfim, a tecnologia permanece em constante evolução. Nos resta aguardar para saber qual a próxima grande transformação que vem para revolucionar o padrão atual.