Por quantas vezes você já leu e ouviu que o vinil tem vivido uma crescente exponencial em vendas? Pois é. Este formato, que num passado não muito distante foi dado como morto pela grande maioria que habita nosso planeta, tem vivido um retorno incessante nas prateleiras das lojas nos últimos anos. Mas você sabe o motivo?
Sim, nos encontramos na era da facilidade, o ato de se ouvir música nunca foi tão fácil como é hoje. Pare pra pensar: como você ouviria uma música específica há 30 anos atrás? Esperaria um programa de rádio que fosse voltado para o estilo que ela pertence e rezaria para ela ser tocada? Compraria o álbum e ouviria em seu 3×1? Hoje, nada mais que alguns toques na tela et voilá, você é capaz de ouvir a faixa que quiser sem precisar baixar nada, tudo isso através do seu smartphone.
É uma maravilha, não dá pra negar, mas como tudo na vida sempre possui dois lados, uma parte fundamental fica de fora quando o assunto é a forma mais utilizada para se ouvir música nos dias de hoje: a experiência. O Streaming infelizmente faz com que outras partes sensoriais sejam colocadas de escanteio já que tudo é executado de forma digital. Tentativas de minimizar isso são constantemente implementadas, a exemplo do Canvas, ferramenta que o Spotify adotou recentemente para reproduzir vídeos que os próprios artistas colocam em suas músicas quando você a ouve ou compartilha no Instagram.
O tato, a visão e o olfato são peças fundamentais na hora de se ouvir música, e é exatamente por isso que o vinil vem ganhando tanta força, já que não há tecnologia existente até então que possa entregar a mesma experiência que o vinil entrega. Nada se compara ao ato de tirar um disco da capa, posicionar ele no toca discos e com todo cuidado colocar a agulha nele. Enquanto ele gira, você observa a arte feita na capa e lê as informações, observa as fotos e acompanha as letras contidas em um encarte. Simplesmente fantástico.
E pro DJ? Qual o motivo de alguns DJs ainda usarem o vinil?
Eu mesmo respondo essa pergunta. Sabe essa coisa da experiência que discorri logo acima? Ela me facilita muito na hora de buscar a música certa durante um set, eu consigo encontrar de forma muito mais rápida uma música lembrando a cor da capa do disco que ela pertence do que lembrando o nome da música. Outro fator que me faz preferir o vinil acima de outros formatos é o tato na hora de mixar, onde o estilo de mixagem acaba sendo mais linear e delicado, algo que eu gosto muito quando o assunto é discotecagem.
Existem outros fatores que fazem alguns DJs preferirem o vinil e te garanto que se fossemos falar sobre isso, precisaríamos de todo tempo do mundo para tal.
Mas você, leitor, para ouvir e sentir tudo isso que contei, é preciso ter discos, certo? Não sabe como comprar? Tem dúvidas se compra em loja física ou online? Disco novo ou disco usado? Custos dos garimpos? Calma! Nós convidamos alguns especialistas no assunto para tirar todas essas dúvidas e te fazer começar a sua coleção de vinil da melhor forma possível, seja você aspirante a DJ ou não.
O primeiro DJ e ávido colecionador que conversamos foi o curitibano Kaká Franco, que integra o time do D-EDGE em São Paulo e é dono de um acervo fantástico que vem sendo construído há mais ou menos duas décadas. Segundo Kaká, encontrar discos sempre foi algo extremamente importante para definir o DJ, é a partir desse ponto que se pode notar um primeiro diferencial: o repertório. O garimpo passa a ser uma rotina, e com o tempo, você passa a ter pontos favoritos de fornecimento, é algo pessoal de cada pessoa.
“No meu caso, com o passar dos anos, essa prática tem migrado cada vez mais das lojas físicas para as digitais, é quase que óbvio quando pensamos na evolução do comércio. Hoje em dia procuro variar bastante as lojas digitais, porém a confiança, embalagem e agilidade, tem sido os pontos chaves que fizeram com que me mantivesse bastante fiel a loja Decks na Alemanha. Também procuro vasculhar, Deejay, Juno Records, Hardwax, Phonica Records entre outras internacionais. O Discogs é outro ponto obrigatório, pois ali a gama de discos de outras épocas é infinitamente maior. Também nunca esqueço de dar check online na Dance Division Records, loja em São Paulo, como também um passeio pelo Mercado Livre, principalmente se tratando do perfil Rhythm Records”.
Kaká também disse que, apesar de Curitiba possuir bons sebos, a internet supre muito bem suas necessidades. “Já foi a época em que tinha que pegar um ônibus para São Paulo, apenas para encher uma sacolinha de músicas novas. Recentemente tenho visto bastante DJs se desfazendo de suas coleções, por vários motivos, muitas vezes falta de grana nesse período de pandemia, e também os que sempre gostaram da prática de reciclar seus materiais, vendendo o que não toca mais, para adquirir sempre novos materiais. Vale muito a pena conferir e negociar um bom valor com essa turma”.
Saindo de Curitiba e indo para a capital paulista, o segundo DJ que conversamos é Gui Scott, um dos fundadores do selo Gop Tun, núcleo que através de festas e releases, tem se mostrado um dos mais importantes do país. Gui Scott também coleciona passagens por festivais como Dekmantel e DGTL, que demonstram um pouco sua magnitude no cenário. Com Gui, o papo foi sobre as dificuldades que um crate digger pode encontrar durante sua busca.
“Tem que ter paciência, para cada 100 discos que você ouve em um sebo, possivelmente nenhum será do seu agrado e isso é super comum. Achar o disco certo requer tempo e persistência, várias vezes fiquei o dia todo no garimpo e não encontrei nada.”
Sobre como a pandemia afetou suas pesquisas, Gui Scott nos conta que utilizou o isolamento de forma produtiva. “Usei o isolamento social para organizar toda minha coleção de discos, confesso que foi uma grande terapia. Com a organização feita, pude relembrar a ouvir discos que tinha comprado há muito tempo atrás e nem lembrava, foi literalmente um digging dentro da minha própria coleção.
Ainda em São Paulo mas com gostinho de de Rio de Janeiro, o nosso terceiro convidado é o carioca Pino Henrique Pedra, radicado em São Paulo, porém sempre ativo como DJ nas duas cidades. Entre sets ecléticos na The Lot Rádio e apresentações interessantes no XAMA, Pino mostra que a alma digger sempre esteve presente. Ao contrário de Kaká Franco, Pino mostra que prefere ir às lojas físicas ao invés de usar a internet.
“Eu sempre preferi as lojas físicas, principalmente as que não são exclusivas de discos, mas sim sebos, com livros, revistas, discos, CDs e afins. A chance de você encontrar excelentes discos em locais como esses é enorme. É nesses locais que o diggin te proporciona aquela maravilhosa sensação de descoberta de uma música incrível e completamente nova para você a cada novo garimpo”
Sobre os preços, Pino nos deu uma visão interessante.
“Mais caros do que há alguns anos certamente. Na minha opinião, a melhor coisa a se fazer é buscar originalidade na compra e nas escolhas pois os discos caros, geralmente, são caros pois já são conhecidos e isso, logicamente, agrega valor a aquela peça”
Para encerrar, eu, Stanccione, também quero te dar uma dica, seja você iniciante ou não no crate diggin. Quando for comprar discos em marketplaces como Discogs ou Mercado Livre, sempre converse com o vendedor antes de efetuar a compra, assim você se assegura de que a loja é idônea e ainda pode conseguir um bom deal na maioria das vezes. Consegui discos que não estavam catalogados só por iniciar uma conversa com o vendedor, ele observou o que eu queria comprar e me ofereceu outros discos que tinham a ver com a minha compra. Isso é normal acontecer em lojas físicas também.
Não se esqueça, garimpar discos é uma arte tanto quanto discotecar, você cria uma personalidade em cima e desenvolve técnicas para executar todo o processo, por isso, não tenha pressa.
Happy Diggin!