No último conteúdo, contamos um pouco sobre a história das gravadoras pelo mundo e hoje vamos concentrar a narrativa em nosso território, falando da indústria fonográfica brasileira. Tudo começa pela pedra fundamental posta pelas mãos de Frederico Figner, um imigrante tcheco que em 1900 decidiu apostar alto e abriu o primeiro estúdio de gravação brasileiro, a Casa Edison. Nem preciso dizer o quão revolucionário e inovador foi essa empreitada que Figner tomou, já que dentro da Casa Edison, o equipamento mais importante era um Fonógrafo, uma espécie de gravador bem rudimentar que utilizava cilindros metálicos para gravar o que era tocando no ambiente que o equipamento se encontrava. Essa máquina que parece ter sido uma invenção do Professor Pardal, na verdade foi inventada por Thomas Edison alguns anos antes nos Estados Unidos.

Foi pela mente vanguardista de Figner que em 1913, nossa amada terra brasilis recebeu a primeira fábrica de discos, a Odeon. Para tal feito, Frederico Figner buscou tecnologia na Alemanha, importando todo maquinário necessário para confecção dos discos, que podem ser parecidos com os quais estamos habituados hoje, mas é só o formato mesmo, porque o material, a forma de gravação e até mesmo o tocador eram totalmente diferentes.

Os primeiros discos eram feitos de cera de carnaúba e tocados em gramofones, uma espécie de toca discos manual, onde para fazer o aparelho funcionar – se é que podemos chamar assim -, era necessário girar uma manivela. Mais analógico que isso? Impossível. Vale lembrar que esses discos de primeira geração funcionavam em 78 rotações, permitindo que somente uma música fosse gravada em cada lado do disco.

Frederico Figner foi o grande patrono da indústria fonográfica brasileira, estabelecendo processos e padrões de como tudo funcionava desde a gravação até a venda ao consumidor final. Em 1930, seu império foi comprado pela Transoceanic, uma das majors da indústria fonográfica européia a época. Além da Transoceanic, a RCA Victor e a Columbia, também atuavam no mercado fonográfico brasileiro, sendo as três principais empresas do ramo. Uma curiosidade: Entre 1930 e 1960 o número de fábricas de vinil no Brasil saltou de três para 150.

Graças as essas primeiras empresas que se estabeleceram no nosso território, o trabalho artístico que aqui existia passou a ser apreciado mundialmente, Elis Regina, Zimbo Trio, Caymmi, João Gilberto e toda essa gama de artistas passou a ter seu trabalho sendo estudado e difundido pelo planeta, fazendo que grandes empresas como a Warner Brothers abrisse sua filial no brasil em 1976. Infelizmente, com a ditadura militar que vivíamos durante essa época, a corrupção era enorme e quem falava mais alto era o dinheiro, fazendo que empresas 100% nacionais como a Rozenblit, que apesar de muito expressiva e importante para nossa história, tivesse uma trajetória relativamente curta, fechando as portas no início dos anos 80, com pouco mais de 20 anos de existência.

(Documentário Rosa de sangue, de Melina Hickson)(Documentário Rosa de sangue, de Melina Hickson)
E falando na década de 80, esse é o momento onde temos a segunda grande revolução dentro da indústria fonográfica, a vinda do poderoso Compact Disc, ou como todos nós o conhecemos, o nem tão bom e velho CD. Maior tempo de gravação, maior qualidade e maior manuseio por conta do tamanho muito menor, além de tornar o ato de se ouvir música em algo portátil. Foi na década de 80 onde o formato vinil perdeu todo seu esplendor por conta das inovações e facilidades que seu sucessor trazia, fazendo que em um período de 10 anos, todas as fábricas de vinil do brasil fechassem por conta da migração de formato adotado pelas gravadoras.

Mas, como tudo na vida é um karma, no fim da década de 90 a música se torna um arquivo, não igual ao do início do século como nas partituras, mas um arquivo digital, que poderia ser guardado em um computador e pasmem, ser baixado sobre algo novo e revolucionário que todos chamavam de internet. Em 1999 surgia o então grande vilão da indústria fonográfica, o Napster. O formato peer 2 peer – download ponto a ponto numa tradução literal – chegou com força no Brasil, fazendo com que as pessoas deixassem de comprar para ouvir, o que causou uma enorme briga nos meios jurídicos, conseguindo com que o Napster fosse desativado por infringir leis de comércio e autoria.

(Napster – um exemplo do sistema peer-to-peer)

Mas é graças aos P2P que hoje todos nós podemos ouvir nossas músicas em plataformas de streaming como Spotify, que é o modus operandi vigente na nossa indústria fonográfica, e quando falo nossa, não me refiro só ao Brasil, já que também graças a Internet, o mercado fonográfico virou um monstro gigante possibilitando uma infinidade de artistas alcançarem o seu tão desejado sucesso.