Se você está intimamente ligado ao mundo das artes, com certeza já ouviu que tudo que é feito dentro dele é regido por um eterno equilíbrio entre o caos e a liberdade. Essa afirmação está mais que correta, é justamente de momentos libertadores após um lapso em meio ao caos que grandes obras costumam aparecer.

E não, caso você esteja pensando que para esse equilíbrio acontecer basta as coisas acontecerem — leia-se o caos reinar — você está enganado. Claro que organização é algo muito subjetivo, tem pessoas que precisam de que tudo esteja milimetricamente no lugar, enquanto outras mentes preferem seus utensílios mais utilizados sempre a vista, mesmo que isso custe uma poluição visual ou até mesmo que processos sejam mais demorados. O ponto é exatamente esse: cada um tem sua forma organizacional e só você mesmo pode saber qual funciona melhor para você.

Mas calma! Não deixe o caos reinar de antemão, nós vamos dar uma mão (ou várias) para você descobrir como potencializar sua criatividade e maximizar seu tempo, tendo assim um maior aproveitamento das horas aplicadas nas suas produções musicais e DJ sets, que com toda certeza acarretará em um trabalho coeso e profissional.

Gabi Lima

Desde quando comecei a tocar e, fazendo uma retrospectiva analítica até os dias de hoje, vejo a importância de se ter bem organizada a pasta raiz de um DJ, aquela que fica dentro do computador. A partir dessa organização principal vai ficar muito mais fácil e intuitivo o gerenciamento das músicas também via softwares, extraindo o melhor do universo de possibilidades que eles oferecem nos dias atuais.

Nesse processo inicial, depois que pesquisei e já estou com as músicas dentro do computador, eu trabalho a organização nos seguintes passos:

Uma pasta de cada ano;
Dentro das pastas por ano a pesquisa do mês;
Dentro de cada mês, pastas menores com média de 15 a 20 músicas organizadas por estilo, período provável do set que vou utiliza-las (início, meio ou fim), por nome da festa ou local onde vou tocar;
Dentro de cada pasta também organizo as músicas em sequência, fazendo um estudo individual de cada uma delas, para que haja uma combinação sequencial.

Através desses processos sinto que desenvolvo uma fotografia mental e, se torna muito mais fácil lembrar e encontrar as músicas que eu quero, tanto para tocar, quanto para facilitar na criação de playlists ou gravar um set. Isso também facilita a memorização musical dos sets anteriores e torna mais assertiva a utilização das mesmas em outros momentos dos próximos sets.

Depois desse processo inicial, até pouco tempo atrás fazia a análise da tonalidade das músicas no Mixed In Key, mas com a nova atualização do Rekordbox carrego as playlists direto por ele, onde também já tenho acesso a tonalidade de forma alfanumérica, assim como no Mixed In Key. Atualmente gosto de definir todas as possibilidades de Hot Cue points antecipadamente pelo software, ajustando também todos os grids das músicas que necessitam desse ajuste mais profundo. Como em meus sets trabalho muito com House, Disco entre outras sonoridades bem instrumentais, essa pré organização do grid é fundamental. Além do Rekordbox, a pré-organização da pasta raiz falada no início também me permite criar sets mais fluidos quando utilizo o timecode do Traktor Scratch, tocando com os tocadiscos.

STANCCIONE

Se tratando da forma como trabalho em estúdio — a qual difere muito de quando estou no palco — uma organização baseada em métodos e processos é essencial. Eu não sou do tipo que tem presets e templates prontos se tratando de DAW e plugins, acredito que eles agilizam sim tais processos mas acabam criando uma zona de conforto e como uma espécie de funil, acabam filtrando um pouco de irreverência e novas possibilidades que por ventura possam me vir à mente quando começar uma nova faixa.

Quanto aos meus equipamentos externos, os que mais utilizo são os que ficam mais próximos e todos eles estão 100% prontos para serem usados quando eu julgar necessário. Não tem nada mais frustrante que tentar usar um sintetizador por exemplo e ter que cabear e calibrar enquanto se está com uma ideia na cabeça. 15 minutos fazendo isso e você pode deixar escapar a ideia que mudará sua carreira como músico.

A parte de samples é moderadamente organizada. Meu método consiste em separar os arquivos por ano e fabricante. Por que? Porque não necessariamente um riff em Lá não irá funcionar em uma escala que não contém Lá. Parece loucura falando assim, mas você pode manipular tanto tanto velocidade quanto tom de formas independentes com as tecnologias que temos, e não são raras as vezes que usei algo que inicialmente estava fora de tom e após passar por um Melodyne ou até mesmo o Transpose, encaixar tal elemento de forma coesa no contexto da obra. Eu evito me limitar a estilos também, não vejo porque não usar um sample onde o nome do pack diz Techno em uma faixa de Deep House. If It Fits It Sits.

Agora, quando se trata da organização de meus meus discos tanto em casa quanto em uma gig, bem, a organização é zero. Na discotecagem existem dois pontos que pra mim são uma espécie de lei marcial: beatmatching perfeito e improviso.

Entendo que um set baseado em uma playlist feita anteriormente com tônicas declaradas, cores avisando intensidade e tantas outras funções super úteis que 90% ou mais dos outros profissionais usam acabam deixando a dinâmica de um set perfeita demais e tudo que é perfeito demais é artificial.

Realmente não sigo nenhuma forma de organização nas prateleiras, os discos estão lá para serem primeiro achados e depois ouvidos. Não tem nada mais prazeroso do que estar folheando um case em busca de um disco o qual você lembra de ter trago ao palco e dar de cara com um outro que funcionará igual o melhor do que você estava pensando. improviso é a alma da discotecagem.

Renato Cohen

Eu sou uma pessoa que funciona por imagem. Já reconheci gente na rua que eu estudei no maternal, mas esqueço o nome de pessoas que fui apresentado uma hora antes [risos]. Então quando era só vinil, sem problemas! Eu nem sabia que eu era assim… quando veio o CD, tive que manter o mais parecido possível. Imprimo a capa do disco e tenho uma musica por CD, como se fosse um 12”. Se eu tiver uma segunda música que não tenha nada a ver com a primeira, jamais vou lembrar dela na hora que estiver tocando… O jeito que eu me organizo e penso na hora de tocar é assim, preciso ver os discos na minha frente pra saber o que fazer em seguida.

No pen drive, além de músicas minhas (velhas e novas em teste) eu levo músicas muito especiais que eu carrego comigo por anos. Eu só vou tocá-las em determinadas situações, no caso da festa evoluir pra algo inesperado, ou um público que tenha uma sintonia especial. Acho que é mais uma questão de organização na hora de tocar, de como eu faço a coisa fluir… Não acho que existe um jeito melhor ou pior, o que importa é o resultado final.

No caso do vinil, eu gosto de tocar porque acho a qualidade melhor , se as condições não estiverem perfeitas, o som vai ficar muito pior que o digital, então não tenho saudosismo nenhum, escolho sempre o que vai ser melhor pra festa.

JAYBOO

Organização é uma coisa muito pessoal, vou contar um pouco sobre a forma que eu desenvolvi para estar sempre alinhado com minhas músicas. Antes da organização vou dar algumas dicas de como eu seleciono as músicas, nos dias de hoje está muito fácil e divertido encontrar muita sonzeira.

Atualmente minha principal fonte de pesquisa é o Spotify, a primeira dica é seguir todos os artistas que você tem dentro de sua biblioteca, dessa forma o algoritmo do programa está sempre ligado para te mostrar as novidades deles. Outra coisa que faço dentro do Spotify é criar uma playlist com aproximadamente 20 músicas de uma pegada parecida e no final da lista você encontra as músicas recomendadas baseado nas faixas que você adicionou, sempre encontro muita coisa dessa forma!

Também tenho playlists que chamo de bolsão. Tenho os 3 gêneros principais que eu tenho curtido: Melodic, Tech House e uma especial de Chill Out onde eu coloco mantras remixados e músicas ambiente, além das mais leves que gosto de ouvir no meu dia a dia. Dessa forma, toda vez que estou ouvindo minha descoberta da semana ou os mixes diários que o Spotify oferta, eu sempre tô ligado nas novas e coloco nesses bolsões para depois comprar elas.

Quando o papo é organização das músicas, na época dos discos eu olhava para a capa e relembrava da música. Quando migrei para os CDs comecei um formato de organização gravando apenas uma música por CD e utilizando adesivos coloridos!

Esse sistema de cores e adesivos eu fui evoluindo e utilizo até hoje. Meu formato de organização em primeiro lugar crio na pasta de músicas uma subpasta do mês.

Como tenho alunos de diversos segmentos e ministro aulas dos mais variados gêneros, dentro dessa pasta do mês eu crio subpastas com gêneros, dependendo do mês faço a pesquisa nos gêneros que irei ministrar aulas ou gravar vídeos. Às vezes também crio pastas com momentos da festa como por exemplo:

– Dentro da pasta do mês eu crio uma pasta para músicas de Warp Up ou After por exemplo.

– Depois que fiz o processo de organização das pastas eu passo as músicas pelo programa mixed in key para ele registrar a tonalidade das músicas junto ao nome da faixa e também no nome do arquivo.

– Após isso eu crio as playlists no rekordbox.

– Lá dentro eu costumo criar playlist de mês e gênero, porém também tenho o costume de criar listas para festas.
Um dos formatos que me ajuda muito na organização dessas músicas dentro das pastas é utilizar as cores para determinar os gêneros, desde a época que eu usava os CDs utilizo as mesmas cores então dentro da minha biblioteca utilizo:

Azul – Warm up
Verde – Tech House
Amarelo – Techno
Roxo – Progressive House
Vermelho – House mais comercial
Rosa – DJ tools (músicas que eu utilizo apenas trechos)

Dentro de uma playlist de tech house, muitas vezes tem músicas roxas, então significa que é um tech house com toque progressivo. Após ter alinhado as cores eu entro na parte mais profunda da organização que é a utilização de estrelas para determinar a intensidade das músicas.

Então se eu pegar um Tech House (verde) de 1 estrela significa que é um Tech House suave, essa provavelmente não irá combinar com outra de Tech House 5 estrelas por causa da energia!

Esse formato de estrelas me ajuda muito no workflow ao vivo. Hoje em dia tem tanta música e são tantos arquivos que nem sempre lembro de todas, então costumo utilizar o campo de comentários para colocar pequenas palavras-chaves sobre as músicas exemplo: sax, vocal pop, guitarra e etc.

A melhor dica para quem quer evoluir sua organização é criar um formato e repetir a utilização dele, não adianta largar tudo em uma pasta e pronto!